Artigo - O Útil e o Fútil

Artigo Publicado no Diário Catarinense em  06/03/1989

Há alguns anos, na abertura de um congresso empresaria, o então ministro da Industria e Comércio Camilo Penna exortou aos empresários presentes que se procurassem se preocupar mais em produzir "o útil" e, detro do possível, deixassem de lado "o fútil", pois a população brasileira precisava racionalizar o seu consumo.

Não foram poucos os empresários que, na ocasião, pensaram e se manifestaram, com bastante propriedade, que a única coisa "fútil" a se pensar na economia era exatamente a instituição que S. Excia. representava, ou seja, a burocracia estatal.

O fato lembra uma extensa reportagem da revista "Time", do início desta década, que começava com destaque para o seguinte texto "Se os italianos não tivessem que passar a maior parte do tempo se defendendo de bobagens que seu governo faz, a Itália seria, por certo, um grande país".

Parece, porém, que se pode dizer, com bastante segurança, que os italianos mudaram nos últimos tempos esse procedimento... Não que seu governo parasse de fazer bobagens. Afinal, ainda está para surgir um governo que faça de verdade algo de expressivamente útil e produtivo. O que aconteceu, foi que os italianos descobriram que poderiam construir um grande país, apesar do seu governo e não esperar que ele viesse a ajudar.

Você se deteve um pouco para analisar quantas horas da vida ficamos nos preocupando com o que o Governo fez ou deixou de fazer? Com os seus erros, promessas (daqui para frente vai ser assim...), planos maravilhosos, manipulação de números e informações etc?

E já pensou em quanto de útil poderíamos fazer se esse tempo e energia mental fossem aplicados na direção de criar, desenvolver e aprimorar algo de útil?

No meio empresarial, por exemplo, certamente mais de 60% do tempo é gasto na discussão do que o Governo fez ou está fazendo e do que poderá acontecer se ele fizer isto ou deixar de fazer aquilo.

Tal qual um jogo de xadrez, milhares e milhares de horas são gastas por altos executivos, em infinitas e, quase sempre, pouco úteis elucubrações em exercício de verdadeira futurologia.

É claro que não se pode deixar de analisar o comportamento e as atitudes da instituição governamental para efeito do planejamento empresarial. Mas será que isto merece tanta energia?

Os italianos nos deram uma boa lição neste campo: simplesmente procuraram para efeito do seu trabalho, esquecer o máximo possível uma instituição chamada "governo". Obedeçam-se as leis, naturalmente, mas trabalhe-se "fazendo de conta" que não existe aquela instituição.

O resultado? A Itália é hoje um exemplo de desenvolvimento, de excelente padrão de vida e tem atraído a atenção de todos os países do mundo pelos altamente expressivos índices de produtividade, elevação de padrões de qualidade e mehoria do bem-estar de seus cidadãos.

Acabou se tornando uma realidade a anedota que contam sobre Mussolini: ao ser informado de que as demais nações julgavam o seu país "impossível de governar", o ditador italiano teria esbravejado: "Isto é um absurdo... a Itália não é um país impossível de se governar... é inútil".

O berço da civilização romana, que nos deu o idioma, a ciência do direito e tanta sabedoria, talvez esteja nos dando agora uma outra lição, que poderíamos sintetizar parafraseando o ex-ministro da Indústria e Comércio: "Pensar menos no fútil e dirigir as energias para o útil".

Sem dúvida, se há alguma coisa que signifique perda de tempo, é preocupar-se com as instituições governamentais, além do estritamente necessário para que apenas não atrapalhem nossa vida e nos deixem trabalhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu depoimento.
Se você conheceu Samuel Schubert, conte-nos sua história!
Muito obrigada pela participação.